Pesquisas na área



Quando tratamos de bilinguismo, vários fenômenos são observados, como a alternância de línguas ou code-switching, típico em bilíngues, que consiste em utilizar elementos das duas línguas na mesma frase ou durante o diálogo. Pode ser um bloco de palavras, uma palavra isolada etc.


Ex.Alice, trilíngue (francês-português brasileiro-inglês), aos 2 anos e 8 meses de idade: "Pousse eu, please".


Em um dos estudos de nosso grupo de pesquisa sobre a produção oral de duas crianças bilíngues PB/espanhol, verificamos que essas crianças fazem uso do code-switching na interação com a mãe e/ou a observadora na maior parte das sessões de registro e áudio, sendo um tipo de produção comum que nos remete a uma estratégia linguístico-comunicativa pela qual as crianças se posicionam discursivamente.


Ex.
Fernando, bilíngue (espanhol-português brasileiro), aos 5 anos e 9 meses de idade: "agora yo".
Clarissa, bilíngue (espanhol-português brasileiro), aos 7 anos e 3 meses de idade: "querés una caneta? "


Observamos também que essa alternância de línguas pode envolver o uso dos pronomes pessoais, foco dessa pesquisa, ocorrendo dentro de uma mesma sentença, isto é, parte da sentença é em uma língua da criança bilíngue e parte é na outra (ex. Fernando: yo ia por ele pra rosa) ou com apenas a inserção de uma palavra na sentença em uma das línguas da criança bilíngue (ex. Clarissa: eu percibí porque tenía un xx eso).


Uma das pesquisas de doutorado do grupo também deu ênfase à questão da referência e do bilinguismo e foi possível observar, por meio dos dados, que é difícil ver a aquisição gramatical como um processo independente do pragmático e do discursivo, ou sem considerar a dimensão pragmática do funcionamento das marcas de referência do "eu/je" e do "tu/você" dentro do diálogo entre a criança e os pais. Foi possível verificar também que mesmo se a criança tem sua produção "ancorada" nos enunciados dos adultos, eles nem sempre utilizam a mesma marca de referência utilizada por seus interlocutores.


Os resultados nos indicam, então, que é possível sim recuperar "sinais" da manifestação da subjetividade da criança por meio do uso de marcadores linguísticos. Pudemos observar que há muitas semelhanças nos usos das formas de referência utilizadas pelos pais, tanto de segunda e terceira pessoas, quanto de auto-referência, mas que a criança utiliza essas formas de maneira distinta dos pais, em ambas as línguas. Mar. (criança bilíngue francês/português) faz mais uso do sujeito nulo (o que diferencia nosso trabalho dos que afirmam que, atualmente, no PB está havendo um retorno ao uso dos pronomes) e há um aumento e uma estabilização do uso do pronome pessoal "eu" e "je" ao final das gravações, quando ela já está com 3;2 anos de idade. Entretanto, o mais fascinante é ver que a criança ainda "passeia" pelas formas de se auto-designar, experimentando e experenciando a língua(gem) com criatividade.